quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Mito

Mito

      Um mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (origem dos astros, da Terra, dos homens, das plantas, dos animais, do fogo, da água, do bem e do mal, da saúde e da doença, da morte, dos instrumentos de trabalho, das raças, das guerras, do poder, etc.).
      A palavra mito vem do grego, mythos, e deriva de dois verbos: do verbo mytheyo (contar, narrar, falar alguma coisa para os outros) e do verbo mytheo (conversar, contar, anunciar, nomear, designar). Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra; é uma narrativa feita em público, baseada, portanto, na autoridade e confiabilidade da pessoa do narrador.
      Enquanto processo vivo de compreensão da realidade, o mito surge como verdade. Quando pensamos em verdade, é comum nos referirmos às explicações racionais em que a coerência lógica é garantida pelo rigor da argumentação e da exigência de provas.  Mas não é essa a verdade do mito, que é verdade intuída (intuição), isto é, percebida de maneira espontânea, sem exigência de comprovações. O critério de adesão do mito é a  crença, e não a evidência racional.
      O mito é, portanto uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea do homem situar-se no mundo. E as raízes do mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na realidade vivida, portanto pré-reflexiva, das emoções e da afetividade.
      Ao entrar em contato com o mundo, o homem não é apenas uma “cabeça que pensa” diante de um “mundo como tal”. Entre os dois existe a fantasia, a imaginação. Portanto, antes de interpretar o mundo, o homem o deseja ou o teme. Nesse sentido, volta-se para ele ou dele se oculta.
Mitologia grega

      Os gregos cultuavam uma série de deuses (Zeus, Hera, Ares, Atena, etc.), além de heróis ou semideuses (Teseu, Hércules, Perseu, etc.). Relatando a vida desses deuses e heróis e seu envolvimento com os homens, os gregos criaram uma rica mitologia, isto é, um conjunto de lendas e crenças que, de modo simbólico, fornecem explicações para a realidade universal. Integra a mitologia grega grande número de “relatos maravilhosos” e de lendas que inspiram diversas obras artísticas ocidentais.
      O mito de Édipo, rico em significados, é um exemplo disso. Na antiguidade, ele foi utilizado pelo dramaturgo Sófocles (496-406 a.C.), na tragédia Édipo rei, para uma reflexão sobre as questões da culpa e da responsabilidade dos homens perante as normas e tabus (comportamento que, dentro dos costumes de uma comunidade, é considerado nocivo e perigoso, sendo por isso proibido a seus membros). Damos em seguida um resumo desse relato mítico.
A saga de Édipo
     
      Laio, rei da cidade de Tebas e casado com a bela Jocasta, foi advertido pelo oráculo (resposta que os deuses davam a quem os consultava) de que não podia gerar filhos. Se esse aviso fosse desobedecido, seria morto pelo próprio filho e muitas outras desgraças surgiriam.
      Em princípio, Laio não acreditou no oráculo de teve um filho com Jocasta. Quando a criança nasceu, porém, arrependido e com medo da profecia, ordenou que o recém-nascido fosse abandonado numa montanha, com os tornozelos furados, amarrados por uma corda. O edema provocado pela ferida é a origem do nome Édipo, que significa “pés inchados”.
      Mas o menino Édipo não morreu. Alguns pastores o encontraram e o levaram ao rei de Corinto, Polibo, que o criou como se fosse seu filho legítimo. Já adulto, Édipo ficou sabendo que era filho adotivo. Surpreso, viajou em busca do oráculo de Delfos para conhecer o mistério de seu destino. O oráculo revelou que seu destino era matar o próprio pai e se casar com a própria mãe. Espantado com essa profecia, Édipo decidiu deixar Corinto e rumar em direção a Tebas. No decorrer da viagem encontrou-se com Laio. De forma arrogante o rei ordenou-lhe que deixasse o caminho livre para sua passagem. Édipo desobedeceu às ordens do desconhecido. Explodiu, então, uma luta entre ambos, na qual Édipo matou Laio.
      Sem saber que tinha matado o próprio pai, Édipo prosseguiu sua viagem para Tebas. No caminho deparou-se com a Esfinge, um monstro metade leão, metade mulher, que lançava enigmas aos viajantes e devorava quem não os decifrasse. A Esfinge atormentava os moradores de Tebas.
      O enigma proposto pela Esfinge era o seguinte: “Qual o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio-dia e três à tarde?” Édipo respondeu: “É o homem. Pois na manhã da vida (infância) engatinha com pés e mãos; ao meio-dia (na fase adulta) anda sobre dois pés;  e à tarde (velhice) necessita das duas pernas e do apoio de uma bengala”.
     Furiosa por ter o enigma resolvido, a Esfinge se matou.
     O povo tebano saudou Édipo como seu novo rei. Deram-lhe como esposa Jocasta, a viúva de Laio. Ignorando tudo, Édipo casou-se com a própria mãe.
      Uma violenta peste abateu-se então sobre a cidade. Consultando, o oráculo respondeu que a peste não findaria até que o assassino de Laio fosse castigado.
      Ao longo das investigações para descobrir o criminoso, a verdade foi esclarecida. Inconformado com o destino, Édipo cegou-se e Jocasta enforcou-se. Édipo deixou Tebas, partindo para um exílio na cidade de Colona.
O complexo de Édipo

      Como todo mito, a saga de Édipo apresentaria, em linguagem simbólica e criativa, a descrição de uma realidade universal da alma humana, conforme analisou nos tempos modernos o psiquiatra austríaco Sigmund Freud (1856-1939), fundador da psicanálise. Elaborando uma reinterpretação psicológica desse mito grego, Freud transformou-o em elemento fundamental da teoria psicanalítica, sob o nome de complexo de Édipo.
 O complexo de Édipo pode ser entendido como: Conjunto organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta relativamente aos pais. Sob a sua chamada forma positiva, o complexo apresenta-se como na história de Édipo rei: desejo da morte do rival, que é a personagem do mesmo sexo, e o desejo sexual pela personagem do sexo oposto. Sob sua forma negativa, apresenta-se inversamente: amor pelo progenitor do mesmo sexo e ódio ciumento ao progenitor do sexo oposto. Na realidade, estas duas formas encontram-se em graus diversos na chamada forma completa do complexo de Édipo.
      Segundo Freud, o complexo de Édipo é vivido no seu período máximo entre os três e cinco anos (...)
      O complexo de Édipo desempenha um papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano.
                                                                           LAPLANCHE, J. e PONTALIS,
                                                               J. B. vocabulário da psicanálise, p. 116.
O mito de Eros (Cupido)

      Observando que as pessoas apaixonadas estão sempre cheias de ansiedade e de plenitude, inventam mil expedientes para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e também serem amadas, o mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros( que conhecemos mais como Cupido):
      Houve uma grande festa entre os deuses. Todos foram convidados, menos a deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Quando a festa acabou, Penúria veio, comeu os restos e dormiu com o deus Poros ( o astuto engenhoso). Dessa relação sexual, nasceu Eros ( ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto,  sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer  e se fazer amado. Por isso quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona  e logo se sente faminto e sedento de amor, inventa astúcias para ser amado e satisfeito, ficando ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida.
O Mito de Pandora

      Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens  do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem seu fígado) e os homens também. Qual foi o castigo dos homens?
      Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que conteria coisas maravilhosas, mas que nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela saíram todas as desgraças, doenças, pestes, ódio, violência e, sobretudo, a morte, etc. Sobrou na caixa só a esperança. Explica-se, assim, a origem dos males no mundo.
A diferença entre Mito e Filosofia

      Quais são as diferenças entre mito e Filosofia? Podemos apontar três como as mais importantes:
1.      O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes do que tudo existisse tal como existe no presente. A filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro ( na totalidade do tempo), as coisas são como são.
2.      O mito narra a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a filosofia, ao contrário, explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais.
O mito falava em Urano, Ponto e Gaia;  a filosofia fala em céu, mar e terra. O mito narra a origem  dos seres celestes( os astros), terrestres (plantas, animais e homens)  e marinhos pelos casamentos de Gaia com Urano e Ponto. A filosofia explica o surgimento desses seres por composição, combinação e separação dos quatro elementos - úmido, seco, quente e frio, ou água , terra,fogo e ar.
3.      O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só porque esses eram traços próprios  da narrativa mítica, como também porque a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A filosofia,  ao contrário, não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja coerente, lógica  e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos.
Filosofia

      A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio.
      Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo:  o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.
Questões

1)      De acordo com o texto, o que é mito?
2)      Leia a saga de Édipo e responda: o que significa o complexo de Édipo para Sigmund Freud?
3)      Qual o significado (atual) do mito de Eros (Cupido)?
4)      A partir do mito de Pandora, o que surgiu no mundo?
5)      Qual a diferença entre mito e filosofia ( nos itens 1,2,3)?
6)      O que é filosofia?

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